Mentores de sequestro em Florestal planejaram, na cadeia, mesmo crime em Bom Despacho

Em cerca de 36 horas a vida de um jovem de 21 anos, morador de Bom Despacho, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, virou de cabeça para baixo. Na última quinta-feira, ele foi sequestrado em casa por bandidos armados e mantido por mais de um dia em um cativeiro em Belo Horizonte. O objetivo dos criminosos, segundo a Polícia Civil, era praticar o crime de extorsão mediante sequestro, tentando extorquir a tia do rapaz a pagar pelo resgate.

O que mais chama a atenção neste caso é que os dois mentores desse crime foram flagrados articulando o sequestro com telefones celulares no momento em que eram removidos na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, para uma delegacia da Polícia Civil para prestar depoimento sobre outro sequestro que também comandaram de dentro do presídio, dessa vez na cidade de Florestal, na Grande BH.

Os dois apontados por essas condutas são Daniel Augusto Cypriano, 35 anos, e Thiago Rodrigues Ribeiro, de 32, ambos condenados por crimes diversos. "O Thiago e o Daniel participaram do caso de Florestal e estavam naquele momento da apresentação aqui já na execução desse novo crime em Bom Despacho, tamanha é a audácia e a afronta deles contra o estado", afirma o delegado Ramon Sandoli.

Quando teve notícias do segundo caso, na última quinta-feira, imediatamente a Polícia Civil, via delegacia em Bom Despacho e também pela Delegacia Antissequestro do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), entrou na história. Na noite de sexta-feira os investigadores conseguiram estourar a casa onde o jovem era mantido refém, sem que houvesse pagamento de resgate e sem ferimentos causados ao morador de Bom Despacho.

Porém, apesar do desfecho positivo, a vítima ainda mantém o trauma na memória, já que foi constantemente ameaçada. "Eles ameaçaram minha família, falaram que ia me matar. Falaram que iam cortar meu dedo e mandar para minha tia. Colocavam a faca em mim", diz ele. Para a tia, que mora com o garoto, a ameaça foi ainda mais pesada. "Se eu não pagasse o resgate eles iam tirar a cabeça dele e me mandar pelo Sedex para eu fazer o enterro do corpo", diz a mulher. 

De acordo com Ramon Sandoli, esse tipo de terrorismo é uma forma de ação bem comum dos bandidos em casos de extorsão mediante sequestro. "A característica marcante dos casos de extorsão mediante sequestro é a violência psíquica que os autores fazem tanto no refém que está em cativeiro quanto nos familiares que são extorquidos. Essa violência agride a família e o refém colocando medo", diz o policial.

Por questões de segurança, a Polícia Civil não divulga muitos detalhes sobre a vida da vítima. O que já se sabe até então é que bandidos usaram um comércio de propriedade do jovem para iniciar a aproximação, vislumbrando a oportunidade de ganhar dinheiro com um possível resgate. "Não consigo dormir direito. É horrível. A única coisa que eu aconselho é cuidado com o que as pessoas falam, porque as vezes você acha que é amigo e não é", acrescenta.

Entenda o caso


Tudo aconteceu na manhã da última quinta-feira. O jovem, que mora com a tia em Bom Despacho, foi até a porta para atender ao interfone quando foi surpreendido. Três pessoas, incluindo Lilian White Sodré Barbosa, de 29 anos, participaram da abordagem e anunciaram o sequestro. Ele foi colocado em um carro e viajou até Belo Horizonte, sentado no chão do carro atrás do banco do motorista com uma camisa na cabeça, para não ver para onde estava indo. 

Para a tia do rapaz, os bandidos disseram que ligariam depois, o que foi feito já pedindo o resgate. Segundo a Polícia Civil, tudo tinha sido arquitetado por Daniel Augusto e Thiago Rodrigues, de dentro da Nelson Hungria. De acordo com o delegado Ramon Sandoli, pelo menos um celular foi apreendido com cada um na hora que eles eram levados para a delegacia para prestar os esclarecimentos sobre o caso de Florestal. 

A Polícia Civil ainda apura as relações do imóvel escolhido na capital mineira como cativeiro, mas até o momento ele estaria ligado a uma segunda mulher presa pelo crime, que estava com Lilian no momento em que o local foi estourado. Sandra Cristina de Oliveira Belo, de 37 anos, é a segunda presa fora da cadeia pelo crime, mas as investigações ainda não terminaram. 

A vítima relatou que pelo menos mais três homens ainda estiveram no cativeiro, sendo os dois que o tiraram de casa junto com Lilian e outro homem, que estava na companhia de Sandra. Os próximos passos da investigação buscam encontrar essas pessoas.