Firmino Júnior: Tem que acabar

“Dizer que somos todos iguais não é um clichê, tem que ser uma verdade e pronto; e tem que ser dita”

Uma loja na Rua Oscar Freire, nos Jardins, em São Paulo, serviu de cenário para um fato que muitas vezes é oculto, mas sempre acontece entre nós: o racismo. Um funcionário da loja expulsou um garoto de oito anos, isso mesmo, oito anos de idade, da calçada em frente a fachada do local. Uma cena recorrente mas que, muitas vezes, não chega a esse ponto, fica apenas na esfera do imaginário.

O relato, publicado pelo pai do menino no Facebook, está reverberando nas redes sociais. “O meu filho e eu fomos expulsos da frente desta loja enquanto eu fazia uma ligação (telefônica) porque, em certos lugares em São Paulo, a pele do seu filho não pode ter a cor errada”, postou Jonathan Duran, americano que trabalha no mercado financeiro, radicado no Brasil há 19 anos, morador da zona oeste da cidade.

A postagem já tem milhares de compartilhamentos e traz à tona uma questão social: vivemos ou não numa sociedade que desrespeita pessoas com cor de pele negra? No geral, somos preconceituosos? O que é preconceito de raça? Questões curiosas, que devemos primeiro responder para o nosso íntimo, nosso âmago. Complicado é pensar que do outro lado há, antes de tudo seres humanos. Conceitos como ética, moral, respeito ou simplesmente amor, parecem não vingar mais no tal do atual mundo contemporâneo.

O pai esmiúça cronicamente o triste ocorrido no último sábado, 28, quando ele passeava pela região com o filho e a mulher, a assistente social Ednilce Duran. “Ela estava em uma loja de sapatos e eu e meu filho fomos comprar sorvete. Como nos desencontramos, paramos na porta da loja para ligar para ela”, conta ele. “Foi quando uma vendedora saiu, olhou para meu filho e disse: Ele não pode vender essas coisas aqui. Fiquei sem reação e fomos embora”. Duran disse que, revoltado, chegou a voltar à loja mas, ignorado pela funcionária, achou melhor sair sem brigar.

Bom, há que se pontuar algumas coisas: 1º) A marca responde pelo funcionário, mas não o controla-o integralmente; 2º) Esse tipo de loja não cria, por si só, uma esfera preconceituosa?; 3º) A empresa praticamente não se posicionou diante do fato, estaria ela apenas “apurando o caso”?; 4º) O que faz uma pessoa, funcionária de uma empresa até então conceituada, minimizar a vida, a trajetória de um belo molequinho de oito anos?

Bom, já dizia Luther King, que o sonho dele era ver os filhos julgados pela personalidade e não pela cor da pele mas, apesar das conquistas, o cenário de São Paulo rotulado no início desse texto, revela que ainda temos muito o que avançar. Não pode mais haver lugar para o preconceito. Dizer que somos todos iguais não é um clichê, tem que ser uma verdade e pronto; e tem que ser dita. E lembre-se sempre do mestre Martin: “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente, de qualquer jeito”.

FIRMINO JÚNIOR, bambuiense, é professor do Instituto Federal, mestre em Comunicação e jornalista. Contato: firmino.junior@yahoo.com.br